A aplicação do fator de correção em fármacos é responsável por garantir a eficácia e a qualidade dos produtos. Deixar de aplicá-lo ou a aplicação indevida pode implicar em uma dosagem errada e, consequentemente, em problemas legais, além de muitas vezes o medicamento não surtir o efeito desejado no paciente. É importante ter em conta que essa questão é de inteira responsabilidade do profissional de farmácia, uma vez que muitos médicos não sabem dessa necessidade ou mesmo exatamente o que é fator de correção e como o procedimento funciona.
Primeiramente, é preciso saber que nem sempre há a necessidade de correção, não existindo regra fixa que estabeleça um critério de aplicação, devendo o farmacêutico analisar caso a caso.
Sabendo disso, então quando devemos aplicar os fatores de correção e como isso deve ser feito? Continue a leitura para entender melhor!
COTIDIANO DA FARMÁCIA
A aplicação do cálculo de fator de equivalência no preparo de medicamentos, a partir da forma química diferente daquela com o qual ele é expresso, é uma questão fundamental no dia-a-dia do farmacêutico magistral. É comum ao cotidiano da atividade magistral a necessidade de aplicação de fator de correção para corrigir, por exemplo, presença de água ou do teor do princípio ativo, de forma a atender as especificações do produto referência. Estes conceitos devem ser continuamente revisados de acordo com cada lote adquirido, uma vez que os teores de ativo e umidade podem variar, dependendo do lote adquirido em questão.
Situações em que normalmente se emprega o fator de correção ou fator de equivalência: substância comercializada na forma diluída, substância na forma química de sal ou éster cujo produto farmacêutico de referência que a contém é dosificada em relação a sua molécula base, substância comercializada na forma de sal ou base hidratada cujo produto de referência é dosificado em relação à base ou sal anidro, substâncias que por razões farmacotécnicas e de segurança, são diluídas na farmácia, sais minerais ou minerais aminoácidos quelatos em prescrições para as quais se deseja o teor elementar, agentes nutracêuticos relacionados em prescrições e disponíveis em forma diluída (ex.: licopeno, luteína, isoflavonas, etc.), correção do teor, quando o doseamento indicar valores menores do que o mínimo especificado na monografia farmacopeica).
FATOR DE CORREÇÃO
O fator de correção (FCr) é o fator utilizado para corrigir a diluição de uma substância, o teor de princípio ativo, o teor elementar de um mineral ou a umidade. Essas correções são feitas com base nos certificados de análise das matérias-primas ou nas diluições feitas na própria farmácia.
Para cálculo do FCr, divide-se 100 pelo teor da substância ou do elemento:
FCr = 100
% teor
FATOR DE CORREÇÃO UMIDADE
Ao analisar os certificados de análise dos insumos farmacêuticos, constata-se que a maioria possui água, que pode ser de duas maneiras: livre ou cristalina. Já que a água livre não faz parte da molécula – é uma característica física do insumo trazer a água após a sua síntese – esta muitas vezes vem impregnada na molécula e, naturalmente, necessita ser corrigida, pois uma parte da massa do insumo não é de molécula do ativo, mas sim água. Um caso típico e o ácido fólico que pode possuir até 8,5% da sua massa de água. Por exemplo: um lote de ácido fólico que apresente um teor de água de 7,85% em 100mg de ácido fólico terá 7,85mg de água e 92,15mg de ácido fólico, ou seja, para ter 100mg de ácido fólico é necessário pesar mais do que 100mg.
Como saber o quanto pesar de insumo de água livre? Da seguinte maneira:
100 – teor de água %
100 – 7,85% = 92,15mg de ácido fólico
A seguir aplica-se o fator de correção:
FCr = 100__ = 1,08
92,15
O teor de água livre superior a 2,0% já implica em fatores de correção significativos tornando-se recomendável à correção da água.
No caso de insumos farmacêuticos não farmacopeicos é necessário avaliar se o doseamento foi calculado sobre a base seca ou não. Caso não seja calculado em relação a base seca não se corrige, se calculado sobre a base seca deve-se corrigir. Se houver dúvidas de como foi calculado o doseamento é aconselhável entrar em contato com o fornecedor para esclarecimentos.
É necessário corrigir a água dos extratos padronizados?
É recomendável avaliação caso a caso: se mencionar no ensaio o doseamento que o marcador ou grupo foi calculado sobre a base seca e necessário calcular o fator de correção de umidade. Se o ensaio de doseamento não é mencionado que foi calculado sobre a base seca, não se aplica o fator de umidade.
FATOR DE EQUIVALÊNCIA
O Fator de Equivalência (FEq) é utilizado para fazer o cálculo da conversão da massa do sal ou éster para a do fármaco ativo, ou da substância hidratada para a anidra. As informações a respeito da aplicação do FEq devem estar embasadas em literatura oficial, pois uma substância ativa nem sempre pode ser utilizada em sua forma livre: muitas vezes, a formação de sais ou ésteres tornam a substância mais efetiva e segura, com condições farmacotécnicas adequadas às necessidades dos pacientes.
Para calcular o fator de equivalência (Feq), basicamente precisamos da massa do sal/massa da base em peso molecular.
Tomando como exemplo o insumo azitromicina diidratada, temos:
C38H72N2O12 x 2H2O
Dessa forma, a massa molecular total é 784 e da azitromicina C38H72N2012 é 748 [784 – 36 (duas moléculas de H20)].
Se o Feq indica sal/base, temos 784/748] = 1,05.
No entanto, no certificado de análise da azitromicina consta como sendo 4,6% a quantidade de água e o máximo permitido 5%. Para saber se é preciso corrigir esta água, é necessário fazer uma regra de 3 simples:
Peso molecular: 784 | 2 moléculas de água = 36; | (36/784) x 100 % = 4,6 %;
Chegamos então à diferença de 0,4 %.
Substâncias que possuem água cristalina, para um esclarecimento simplista, apresentam água com parte da molécula e é corrigida através do fator de equivalência, como pode ser observado no Manual de Equivalência da Anfarmag, por exemplo:
Clindamicina cloridrato = FEq 1,09
Aplica-se somente o fator de equivalência para correção da Clindamicina, sem a necessidade de corrigir a água ou aplicar fator de correção do teor.
Existem casos também de alguns princípios ativos requererem, além do fator de equivalência (mesmo sendo 1,00), o fator de correção, de acordo com o teor de pureza e/ou umidade fornecidos pelo certificado de análise. Nesses casos, deve-se multiplicar a quantidade a ser pesada pelo fator de equivalência e pelo fator de correção.
Agora que você já sabe a importância do fator de correção, é importante lembrar que cada caso é específico e deve sempre levar em conta o laudo da farmácia.
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Referências
Manual de Equivalência e Correção Anfarmag, 2017; USP 32th; Farmacopeia Brasileira 5ª ed; Guia Prático da Farmácia Magistral, vol. 1 4ª ed. Revista Anfarmag nº 73, Encarte técnico n° 25, 2008.